Rossana Appolloni sobre Despertar, Libertar, Crescer

Estivemos à conversa com a autora Rossana Appolloni, responsável pelo curso Despertar, Libertar, Crescer que integra o nosso catálogo. 
Rossana Appolloni

Estivemos à conversa com a autora Rossana Appolloni, responsável pelo curso Despertar, Libertar, Crescer que integra o nosso catálogo. 

Num mundo onde a procura pela autenticidade se torna cada vez mais crucial, o processo de autoconhecimento emerge como uma jornada transformadora. Hoje, mais do que nunca, deparamos com desafios que nos impedem de sermos verdadeiramente nós mesmos. Neste contexto, o curso “Despertar, Libertar, Crescer” oferece uma visão única e abrangente, guiando-nos através das complexidades do nosso “Eu” interior.

Foi neste contexto que estivemos à conversa com Rossana Appolloni, responsável pelo curso, cujas experiências nas áreas da Psicossíntese e Hakomi Mindful Somatic Psychotherapy, têm permitido abrir novos caminhos. A entrevista que se segue não é apenas uma exploração do seu percurso profissional, é sobretudo um elemento adicional na aprendizagem do curso “Despertar, Libertar, Crescer”, com incentivos reais para melhorar a sua trajetória de crescimento pessoal e que todos nós nos confrontamos.

Como podemos despertar a nossa realidade interior, libertar-nos do que já não nos serve de modo a crescermos no sentido de encontrarmos a melhor versão de nós próprios?

O primeiro passo para olharmos mais para nós é ganharmos consciência que olhamos demasiado para fora, para os outros, e que, na verdade, conhecemo-nos pouco. Termos curiosidade para nos conhecermos naquilo que são as nossas dinâmicas emocionais, racionais e comportamentais é fundamental. Não precisamos de mudar e ser diferentes do que já somos, mas precisamos de validar a nossa natureza – para podermos nutri-la consoante as suas necessidades. Isso é a base. É como colocar um girassol ao sol ou dar pouca água a uma suculenta. Cada um tem as suas necessidades, mas precisamos de despertar para as conhecermos e cuidarmos. Só com um terreno bem cuidado podemos continuar o processo.

Neste percurso de autoconhecimento vamos descobrindo bloqueios que nos impedem de sermos autênticos e de vivermos em coerência com a nossa essência. A libertação do que já não nos serve – por exemplo, de padrões e crenças limitadores – implica correr riscos, mas os medos travam-nos imenso. Podemos sentir-nos infelizes numa relação (casal, amizade, profissional…), mas enfrentar a nossa verdade interior e viver em consonância pode implicar uma rutura. E isso dá-nos imenso medo, pois a solidão, ou a ausência de relações significativas, é o que mais nos mata por dentro.

O crescimento passa, portanto, por darmos saltos qualitativos na nossa vida. É importante largar padrões que já não nos servem, que nos estão a limitar e a condicionar as nossas escolhas, para dar lugar a outros que nos ajudam a expandir. Por exemplo, uma pessoa que aprendeu a relacionar-se a partir do lugar de utilidade (“tenho de ajudar quem precisa”) não está a honrar a singularidade da sua existência, mas sim a viver em função das outras pessoas. Não há nada de mal em ajudar os outros, antes pelo contrário! O problema é quando essa é a única forma que sabemos de nos relacionarmos.

Rossana Appolloni

Estar preso num padrão, retira-nos a possibilidade de nos relacionarmos com quem não precisa de nós, tal como nos impede de receber a ajuda (e o amor) quando somos nós a precisar. Este padrão, associado a certas crenças, foi aprendido algures na infância como forma de assegurar o vínculo com os cuidadores. Perpetuar os padrões que nos ajudaram a sobreviver emocionalmente, mas que já não nos servem, é incompatível com vivermos o nosso potencial. Precisamos de sair do lugar de sobrevivência – que nos assegurou o vínculo – para lugares de risco, nos quais assumimos o nosso lugar no mundo.

Este processo é simples, mas difícil, pois toca no nosso maior medo: perdermos os outros e ficarmos sozinhos. E em solidão ninguém vive a sua melhor versão. Parece uma pescadinha de rabo na boca: precisamos dos outros para viver a nossa melhor versão e, ao mesmo tempo, precisamos de correr o risco de os perder para vivermos em coerência com quem verdadeiramente somos. E a nossa autenticidade não se conjuga com lugares de sobrevivência. Quando prevalece o medo, não conseguimos ser autênticos; somos crianças dispostas a tudo para nos sentirmos em segurança.

Como poderemos definir o nosso self?

O nosso Self – ou Eu/Ego em português – é um conceito complexo. Eu defino-o como a nossa identidade, a nossa personalidade, a qual abraça uma série de subpersonalidades. Gosto de simplificar e de falar de Self Adulto e de Self Infantil, mas a verdade é que cada uma destas dimensões desdobra-se noutras identidades. Falo de Self Infantil como sendo aquela parte de nós que ainda pensa, sente e se comporta como quando éramos crianças; e de Self Adulto como uma parte mais madura, responsável e consciente.

O importante é percebermos que somos feitos de várias partes que entram em cena consoante os contextos e as pessoas com quem interagimos. Nem sempre somos a mesma pessoa. Somos um ser complexo, incoerente, contraditório, que mostra e conhece apenas uma parte de si próprio. Na abordagem psicoterapêutica com a qual me identifico, que inclui a dimensão espiritual ou transpessoal, temos ainda o Higher Self – a nossa alma – que se manifesta através do nosso Self.

O que são as feridas emocionais e de que forma estas influenciam as dinâmicas do nosso Self?

As feridas emocionais surgem ao longo do nosso desenvolvimento infantil, na sequência do desencontro entre as nossas necessidades emocionais e a forma como os nossos cuidadores as satisfizeram. As necessidades emocionais são universais e transversais a qualquer ser humano. Todos nós precisamos de acolhimento, aceitação, afeto, valorização, proteção, liberdade de expressão e de exploração. Quando estas necessidades não são satisfeitas, nós adaptamo-nos à nossa tribo, reprimindo a nossa natureza. Dessa repressão nasce uma ferida. É um rasgão à nossa autenticidade. A necessidade de vínculo prevalece. Nós não sobrevivemos sem os outros seres humanos, sem a nossa tribo. Somos mamíferos. Se tivermos de escolher entre sermos autênticos ou mantemos o vínculo, vamos optar por este último.

Esta adaptação, fundamental à nossa sobrevivência, vai pautando a nossa qualidade de vida emocional. Aprendemos a calar, a fazer as vontades do outro, a obedecer, e essa aprendizagem fica tão enraizada que perpetuamos os mesmos comportamentos para a vida adulta sem nos apercebermos que já não precisamos deles. Se em pequeninos éramos criticados e nos exigiam que fizéssemos bem as coisas, podemos não ter desenvolvido a coragem de arriscar. Ora, em adultos torna-se muito mais difícil arriscar, e nem sabemos porquê. O padrão já está tão enraizado que nem damos conta de como nasceu nem de como quebrá-lo. Isto para dizer que as feridas emocionais influenciam enormemente as dinâmicas do nosso Self. Enquanto não forem vistas e cuidadas, são elas que estão ao leme das nossas escolhas.

Acredita que as pessoas têm medo de descobrir mais sobre si próprias? Que questões lhe chegam no seu trabalho como psicoterapeuta?

Em geral eu diria que sim: as pessoas têm medo de descobrir mais sobre si próprias. Quanto mais nos conhecemos, mais nos tornamos responsáveis por nós, pois vamos descobrindo que a vida que temos e as relações que alimentamos são uma escolha nossa. Podem não ter sido uma escolha no passado, mas a partir do momento que ganhamos consciência, passam a ser. Sou eu que escolho manter-me no mesmo lugar ou sair. A psicoterapia traz consciência de onde estamos e consciência de que temos poder de escolha. E, em geral, as pessoas preferem manter a desresponsabilização da própria vida e culpar os outros da miséria emocional em que se encontram. E sublinho ‘em geral’. Já há também muita gente a fazer diferente.

Rossana Appolloni

Atrevo-me a resumir as questões que me chegam a três sintomas de base fundamentais: dificuldades nas relações, adições e problemas de saúde de origem somática. Normalmente as pessoas pedem ajuda na sequência da incapacidade de lidar com uma destas queixas, todas elas reflexo de traumas de desenvolvimento. Vindo de uma linha psicoterapêutica espiritual e somática, o que proponho trabalharmos não são os sintomas, mas sim a origem dos mesmos, ou seja, as nossas feridas emocionais que tiveram lugar bem lá atrás e que continuamos a reviver.

De que forma o “Despertar Libertar Crescer” permitiu chegar-lhe às necessidades específicas de cada pessoa que atende?

Os clientes que conhecem o meu trabalho, nomeadamente os meus livros, ou o podcast, já vêm com uma linguagem comum, o que torna a comunicação mais fluida: entendemo-nos imediatamente quando falamos de Self Adulto ou Self Infantil, ou de feridas emocionais, ou de estilos de vinculação, ou de mecanismo de defesa… Quem gosta de compreender as dinâmicas interiores acaba por gostar dos livros, sobretudo do Despertar Libertar Crescer. É um livro muito didático.

Pôr as mãos na massa e trabalhar-se já exige outro tipo de investimento e de exploração. Costumo dizer, com muita pena minha, que os livros não chegam para conseguirmos fazer um processo de mudança.

Claro que tudo o que é arte nos afeta, nos influencia, e são portas de entrada para novos mundos. Ainda assim, a caminhada precisa de companhia humana. Há lugares internos onde não conseguimos ir sozinhos. Nem mesmo com livros. E os meus não são exceção.

Com mais de 9 anos de experiência na área das dependências, como é que essa experiência se reflete na sua prática terapêutica atual?

Quando falamos em dependência, há duas questões fundamentais que mudaram a minha forma de ver a humanidade. A primeira é que todos nós sofremos de alguma adição – que pode ser a uma substância, mas também um comportamento (por exemplo, a pessoa petrificar perante alguém agressivo, ou exaltar-se perante uma situação que contraria a sua vontade, ou preocupar-se constantemente com a vida do outro – até costumamos dizer ‘é mais forte do que eu, não consigo reagir de outra forma’). A segunda é que as adições não são fruto de uma escolha consciente – ninguém decide tornar-se dependente de nada (isto coloca-nos a todos no mesmo barco).

A função de uma adição, a curto-prazo, é boa: acalmar o sistema nervoso. No entanto, a longo-prazo tem consequências nocivas: prejudica a nossa saúde e/ou as nossas relações. Precisamos então de encontrar outras formas de acalmar o nosso sistema nervoso. Esta visão vem mudar completamente o paradigma de atuação sobre as adições: não vale a pena atuar diretamente sobre o sintoma (deixar de fazer o que se faz) se não se dá ao organismo o que ele precisa e tem falta de forma a que não se desorganize. Voltando à analogia com as plantas, se eu der muita água a uma suculenta, ela vai inevitavelmente morrer; não vale a pena enchê-la de vitaminas para ela sobreviver, se eu continuar a dar-lhe água a mais. Com as dependências é a mesma coisa: precisamos de descobrir do que que é que aquele organismo sente falta para lhe podermos dar o que necessita.

Já um dos meus professores na área, o Gabor Maté, diz: a questão não é porque é que te drogas (ou fazes o que fazes). A questão é: porquê a dor? A dor que nos leva à adição. É para ela que devemos olhar e cuidar.

Que autores e livros a marcaram no seu desenvolvimento profissional e que temas abordam?

Numa primeira fase, quando estudei a corrente da Psicossíntese, todos os livros de abordagens mais espirituais foram fundamentais: Tara Brach, Pema Chodron, Mark Epstein, Almaas, A. H., Joseph Campbell, Viktor Frankl, Jon Kabat-Zinn, Carl Rogers, Rollo May, Irvin Yalom.

Mais tarde, quando me direcionei para a psicoterapia somática, fui-me inspirado em: Bessel Van Der Kolk, Daniel Siegel, Gabor Maté, Peter Levine, Stephen Porges e tantos outros. Hoje há muita gente a escrever sobre estas áreas, é incrível! E tantos outros me marcaram… estou a deixar a maioria de fora, até mesmo autores menos conhecidos a um grande público. Caramba, esta é a pergunta mais difícil!

A sua formação abrange diversas especializações em psicoterapia, desde a Psicossíntese até ao Hakomi Mindful Somatic Psychotherapy. Como é que estas diferentes abordagens contribuem para a sua compreensão e prática da psicoterapia?

Acho que todas as formações que fiz se entrelaçam. A Psicossíntese é muito holística pois contempla a dimensão espiritual e um corpo no qual o espírito encarna e através do qual vive e se manifesta; o Hakomi é igualmente holístico, pois olha para o corpo como manifestação de toda a nossa dimensão inconsciente e através do qual podemos ter novas experiências que podem dar espaço a alterações profundas no nosso ser. Ambas são janelas diferentes que dão acesso à mesma paisagem: trabalham o coração do ser humano, não a cabeça. Uma mente saudável advém de termos um coração cuidado. Estas duas escolas são a minha base e a minha grande paixão. E as outras que fui fazendo pelo caminho, por exemplo a Somatic Experiencing, a Biossíntese e o Compassionate Inquiry, para mim, são um complemento que acrescenta conhecimento e experiência.

Rossana Appolloni

O que diria às pessoas interessadas no seu curso e webinares disponíveis na School of Self?

Se se identificam com o meu trabalho, os webinares são uma forma de ouvirem mais sobre um determinado tema. O curso Despertar Libertar Crescer é excelente para quem se interessa nos temas que abordo no livro, pois tem tudo explicado por mim de outra forma, assim complementa a informação.
A área da formação apaixona-me, pois é uma forma de transmitir o que vou aprendendo.

Estudar e aprender é também uma forma de fazer terapia. Portanto, quer seja em consultório, quer seja a ler um livro, quer seja a assistir a uma palestra ou um curso, o importante é encontrarmos forma de irmos olhando para dentro, pois é uma pena passarmos por esta experiência humana sem nos apaixonarmos pela pessoa mais importante da nossa vida: nós próprios.

Bem-Vindo à
School Of Self

Entre e sinta-se em casa!

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